quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

das urgências do estar só




A dependência do café não é apenas a dependência do café. É a dependência de fazer qualquer coisinha. Quando somos apanhados sem estar a fazer nada, ficamos desarmados. Não sabemos onde colocar as mãos nem sequer o olhar. Por isso é que quando queremos estar sem fazer nada em público tomamos um cafezinho. É uma forma de fazer qualquer coisa enquanto não fazemos nada. E chamamos-lhe assim, cafezinho, para ver se ninguém lhe dá essa importância.
Aliás, é mais ou menos por esse motivo que caminhamos depressa na rua quando não temos para onde ir, ou nos pomos a ler panfletos publicitários que não nos interessam nada no autocarro de manhã. Não nos damos bem quando somos apanhados sem um objectivo imediato, e por isso arranjamos um. É uma urgência.
Essa urgência desaparece quando estamos acompanhados. Com alguém ao lado podemo-nos sentar ao balcão de um café sem pedir nada, enquanto esse alguém lancha a meio da tarde. Com alguém ao lado passeamo-nos nas ruas à lenta velocidade das sombras e seguimos no autocarro ou no comboio envoltos num cobertor de quietude. Ter alguém ao lado acaba com as falsas urgências do estar só.
É que ter alguém ao lado é como mudar de mundo. Deixámos de nos preocupar com o primeiro, aquele em que estranhos nos olham enquanto não fazemos nada e por isso ficamos desajeitados, e aterrámos noutro, aquele alguém ao nosso lado. Só isso. E é para aí que tende o Amor, querer aterrar em alguém definitivamente para não nos preocuparmos com o resto.



o autor do texto aqui


Este texto diz muito daquilo que se tem passado comigo... e face à necessidade de manter activa esta página limitei-me apenas às aspas.

Um comentário:

  1. "É sobretudo na solidão que se sente a vantagem de viver com alguém que saiba pensar".

    ResponderExcluir